Editora e Livraria Sêfer: Os fiadores confiaveis

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Os fiadores confiaveis

"E disse a ele (Moshê): "Eu sou o Eterno!"
"Eu sou o Eterno – confiável para pagar a recompensa." (Rashi)

Certa vez, a yeshivá do rabi Akiva e de seus companheiros estava em sérios apuros financeiros, pois eles não conseguiam fornecer as necessidades de seus talmidim. Eles decidiram pegar dinheiro emprestado de uma rica senhora romana, e o próprio rabi Akiva ficou encarregado disso.
Ele foi conduzido para dentro da casa com agradáveis boas-vindas. "Em que posso lhe servir" – perguntou a matrona. Quando rabi Akiva apresentou o seu pedido, ela concordou imediatamente, mesmo se tratando de uma soma muito grande. Contudo, ela perguntou se ele poderia trazer algum fiador para garantir que a soma fosse devolvida a tempo.
Então, rabi Akiva disse: "Nomeie o fiador que você desejar."
"Muito bem" – disse a matrona. Ela pensou antes de responder: "Gostaria que os fiadores fossem Deus e o mar. Eles devem garantir que receberei o dinheiro de volta no prazo."
"Está bem" – respondeu rabi Akiva, agradecido por receber o empréstimo.
O tempo passou e o prazo para a devolução do dinheiro chegou. Rabi Akiva tinha todo o dinheiro preparado para devolver à senhora, mas ficou inesperadamente doente e não podia mais ir até ela.
A matrona romana estava em casa aguardando a sua chegada. Quando a manhã se passou e o rabino ainda não havia chegado, ela saiu para o terraço, ficou em pé diante do mar e rezou: "Senhor do Universo, somente Você sabe por que rabi Akiva não veio devolver a dívida. Qualquer que seja o motivo, o dinheiro está me fazendo falta e eu necessito dele. No momento em que eu lhe emprestei o dinheiro, ele prometeu que Você e o mar seriam os fiadores. Já que ele não pôde vir para cumprir a promessa, eu solicito que os fiadores honrem o combinado. Por favor, mande meu dinheiro de volta."
Deus ouviu a prece da boa mulher e a atendeu. Do outro lado do oceano, em Roma, a princesa, filha do imperador, foi tomada por um ataque de loucura. Ela reuniu todas as suas jóias e depositou num baú. Depois, agarrou o baú com força, correu até a praia e atirou-o no mar.
O mar estava aguardando pela ordem de Hashem. Ele arrastou rapidamente o baú de ouro e pedras preciosas pelas ondas até a praia de Erets Israel. A matrona romana ainda estava lá aguardando pela resposta de sua prece, quando uma onda gigante se precipitou em sua direção carregando o tesouro. Quando a onda recuou, a mulher se agachou para pegar o pequeno baú e o levou para dentro de casa. Ao abrir, descobriu que seu conteúdo valia muito mais do que a soma que havia emprestado ao rabi Akiva!
Algum tempo se passou até que rabi Akiva se recuperasse de sua doença. Assim que foi capaz de fazê-lo, levantou-se da cama e foi correndo pagar a dívida. Quando chegou à casa da matrona, ele lhe implorou que não ficasse enraivecida com ele, explicando o quão doente ele estivera.
Quando entregou o saco contendo o dinheiro que lhe devia, ela sorriu e recusou, explicando: "Não posso aceitar nenhum dinheiro de você, pois sua dívida já foi paga pelos fiadores. Na verdade, sou eu quem lhe deve dinheiro."
Rabi Akiva estava estupefato. Ela foi até o aposento adjacente para trazer o pequeno baú que o mar havia jogado a seus pés. Depois, deu a rabi Akiva um baú cheio de ouro: "É isso que eu lhe devo, pois o mar me deu muito mais do que eu havia lhe emprestado a princípio. Isso é para você e para seus discípulos carentes."

(Adaptado do Rashi e do Ran sobre Tratado Nedarim 50a.)