terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Diante da Pouca Fé do Povo





Um panorama da situação

O trecho bíblico que estudaremos agora é chamado de Vaerá ("E apareci") e estende-se do sexto ao nono capítulo do livro de Êxodo, apresentando de modo detalhado a história da saída do Egito. No início é relatada a Promessa Divina de liberdade e a descrença que o povo nutria em relação a ela. A seguir temos o confronto de Moisés e Aarão com o Faraó, cujo auge é atingido na descrição de sete das dez pragas que assolaram e arruinaram o grande reino do Egito. Este é o grande episódio que marcou tão fortemente a história de nosso povo.

No entanto, como em toda grande história, encontramos "pequenos" fatos, ocultos por trás das manchetes principais. Os efeitos e o vigor moral destes fatos não são necessariamente menores que os da história central, nem seus ensinamentos têm menor valor. Neste nosso estudo, atentaremos a estes episódios "menores" desta história.

Eles não escutaram

No início deste trecho bíblico, Deus agitou e excitou Moisés com a imensa visão da redenção. Ele desenhou perante os olhos de Moisés a imagem de um futuro que se assemelhava a um jardim de rosas, um futuro de verdadeira liberdade:


"E vos tirarei debaixo das cargas do Egito, e vos salvarei...e os redimirei com braço estendido...e vos tomarei por meu povo... e vos levarei à terra." Êxodo 6:6-8

Esta é uma parte das palavras cheias de esperança que Moisés ouviu no início de sua missão, palavras que anunciavam a redenção e a emancipação na Terra Prometida. Deus ordenou-lhe que transmitisse tais palavras ao povo, o qual vergava sob o peso da escravidão. No entanto, a reação do povo foi dolorosa:

"E não escutaram a Moisés, por causa da angústia do espírito, e pela dura servidão." Êxodo 6:9

A visão Divina do futuro encontrou pessoas amarguradas, que buscavam alívio apenas às necessidades imediatas. Elas "não escutaram a Moisés" como que dizendo-lhe: "Se tens o que nos oferecer de imediato, o aceitaremos; se podes aliviar o peso do serviço de hoje, bendito sejas; mas não partilharemos de seus sonhos de redenção, pois não ambicionamos a liberdade e queremos apenas repousar – logo, é isto que nos basta neste instante". Assim reagiu o povo, não apenas naquele momento, mas também após terem saído do Egito:
"De certo, esta é a coisa que te falamos no Egito dizendo: Deixa-nos, e serviremos aos egípcios. Pois melhor é para nós servir aos egípcios que morrer no deserto" Êxodo 14:12
E Moisés ficou perplexo diante da pouca fé do povo. O abismo existente entre a realidade da redenção, que se forjava lentamente, e o horizonte restrito de suas vidas entristeceu-o. Grandes eventos estavam por ocorrer ao povo, prestes a ser libertado, mas a única preocupação era com o benefício imediato: a redução da cota diária de tijolos que deviam fornecer. Pela primeira vez, Moisés ficou desapontado com seu povo e expressou a Deus:
"Eis que os filhos de Israel não me escutaram, e como me escutará o Faraó?" Êxodo 6:12
Moisés questiona Deus quanto à credibilidade que ele próprio despertaria junto ao Faraó, já que nem seu próprio povo estava convencido da veracidade de seu anúncio e até duvidava da justiça do caminho por ele indicado. Deus responde de forma surpreendente a suas dúvidas:
 "E falou o Eterno a Moisés e a Aarão e ordenou-lhes sobre os filhos de Israel." Êxodo 6:13
Não nos é dito qual foi a ordem divina, mas o Midrash ilumina os mistérios deste versículo, encontrando a resposta de Deus à decepção de Moisés:
"E disse-lhe Deus: Meus filhos são teimosos, desobedientes e resmungões. Mesmo assim deveis aceitá-los, ainda que vos amaldiçoem e apedrejem." (Midrash Shemot 7:2)
Nos seus primeiros passos como líder do povo, ao ver revelada sua primeira decepção, Moisés recebe de Deus uma espantosa lição sobre liderança: "Assim é teu povo Moisés! Um povo amargo, resmungão, teimoso, pessimista e de pouca fé. Pois deves aceitá-lo com todos os seus defeitos, amá-lo e libertá-lo do jeito que ele é. É este o povo que deves liderar por momentos grandiosos, dando-lhe respeito e honra, lei e terra, embora ciente de que a única recompensa que dele receberá serão ofensas e pedradas. A liderança, Moisés, é servidão, e não poder. Tenha isto em mente ao iniciares o teu caminho, para evitar a decepção no futuro."

Veja continuação em REFLEXÕES SOBRE A TORÁ





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