Letras voando no ar
"E será para ti como um sinal sobre tua mão e como memória entre os teus olhos, para que a Torá do Eterno esteja em tua boca." (13:9)
O rabino Chaim ben Atar, o Or Hachayim, deitava no leito da morte. Os melhores médicos haviam sido chamados para tratá-lo, mas sem êxito. Em pouco tempo, ele estaria deixando este mundo.
Sua esposa aproximou-se da cama e, com os olhos marejados de lágrimas, chorou: "Querido marido, quando você me deixar, eu estarei completamente só neste mundo. Como sobreviverei? O que será de mim?"
O rabino Chaim reuniu suas últimas forças para sussurrar em seu ouvido: "Não tenha medo, boa mulher, minha fiel esposa e companheira, pois não permitirei que você morra de fome. Depois que eu morrer, um homem rico chegará aqui vindo de Constantinopla. Ele lhe oferecerá trezentos ducats por meus tefilin. Aceite essa quantia, pois será o suficiente para lhe sustentar pelo resto de sua vida, e você poderá viver confortavelmente. Porém, você deve se lembrar de algo essencial..." Nesse ponto, ele fez uma pausa para descansar e, então, prosseguiu: "Diga-lhe, em meu nome, que, quando usar os tefilin, ele não pode desviar seus pensamentos deles em momento algum. Ele não deve pronunciar nenhuma frase ou palavra que não se refira diretamente à prece. Não se esqueça de adverti-lo quanto a isso!"
O rabino Chaim permaneceu deitado na cama, sem forças, após ter confortado a esposa. Depois de poucos momentos, sua alma sagrada deixou o corpo material.
Toda a cidade de Jerusalém se enlutou pelo falecimento do grande homem. Passado o período de luto, um homem rico foi até a viúva oferecendo trezentos ducats pelos tefilin do Or Hachaim. Lembrando-se das palavras do marido, ela aceitou a oferta, mas, antes de entregá-los ao homem, repetiu a advertência do falecido: "Tenha certeza de que vás concentrar todos os seus pensamentos somente nas preces enquanto estiveres usando esses tefilin. Não fale nem pense em qualquer coisa que não seja a reza."
O homem agradeceu e levou o precioso pacote para a sua casa na Turquia. Ele era extremamente cuidadoso em purificar seus pensamentos enquanto estava usando os valiosos tefilin. E como ele rezava com fervor! Como os tefilin eram preciosos para ele! Como ele os colocava sobre a cabeça e enrolava as tiras no braço com amor!
Certa vez, no entanto, enquanto estava sentado no bêt hacnêsset, um de seus jovens criados veio lhe dizer que um cliente importante o esperava na loja. No começo, ele estava tão compenetrado que nem percebeu o criado, mas, como o rapaz insistia, ele proferiu uma palavra dura antes de retornar às suas preces.
Desde então as coisas já não eram as mesmas. O homem rico sentiu uma mudança nas suas preces, pois toda a santidade que sentia enquanto usava os tefilin não estava mais ali! Ele ficou profundamente perturbado assim que percebeu a situação; contudo, não conseguia apontar a causa. Ele certamente não atribuiu a mudança àquela palavra rígida que havia pronunciado. Inocentemente, achou que talvez uma letra dos tefilin estivesse apagada, por isso decidiu levá-los para a verificação de um sofêr experiente.
Assim que o sofêr abriu os tefilin e removeu as parshiot, ele ficou em choque. Pôs o pergaminho diante dos olhos do dono, que também observava boquiaberto a terrível visão. O pergaminho estava liso, como se nunca houvera nada escrito sobre ele! Nenhuma letra era visível! Todas elas haviam desaparecido, se evaporado no ar.
O rebe de
Skver contou essa história a seus próprios chassidim e, ao chegar a essa
conclusão, ergueu-se e disse emocionado: "Naquele momento em que o homem
rico desviou sua atenção dos tefilin e tratou de um assunto corriqueiro,
naquele mesmo momento as letras sagradas deixaram o pergaminho, uma a uma, e
voaram no ar, diretamente para o céu."
Contos de Tsadikim - Shemot, para saber mais, acesse o link:
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A livraria Judaica do Brasil 
 

 
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