Vale a pena rezar quando estamos sofrendo?
É somente fechando nossos olhos completamente para esse mundo e olhando para o propósito eterno e final que podemos anular todo o sofrimento e chegar a uma oração perfeita.
Os rabinos nos ensinaram a dizer que “Tudo o que o Misericordioso faz é para o bem”. Mas, se tudo o que Deus faz com um indivíduo é para o bem dele, e se a dor e o sofrimento são grandes favores que o ajudam a alcançar a vida eterna, então por que somos ordenados a rezar quando estamos com problemas?
Certamente tudo o que Deus faz com uma pessoa é para o bem, mas mesmo assim deve-se rezar e implorar a Ele por alívio do sofrimento. Para entender o por quê, primeiro devemos reconhecer que o principal objetivo da criação do mundo é o homem, a quem foi dado o livre-arbítrio. Deus colocou tudo em nossas mãos, para que nós mesmos fizéssemos os recipientes por meio dos quais o amor Divino e suas bênçãos pudessem afluir para este mundo.
Um recipiente é utilizado para guardar algo e passar adiante para outra pessoa. Na literatura cabalista, os ensinamentos de Torá, as orações, as mitsvót e as boas ações são denominadas recipientes – canais limitados pelos quais a Luz Infinita de Deus pode ser revelada neste mundo. Enquanto nós não prepararmos esses recipientes aqui embaixo, a bondade Divina não pode afluir de cima até nós, pois, nesse caso, ela viria em excesso – assim como o óleo que, em demasia, apaga uma lâmpada. A bondade se tornaria então severidade, Deus nos livre.
Os recipientes para receber a bondade de Deus são preparados por meio do estudo da Torá e da reza, especialmente a reza. Assim, antes da criação do homem, “toda planta do campo antes que houvesse na terra e toda erva do campo antes que germinasse, porque não tinha feito chover o Eterno Deus sobre a terra e o homem não existia para cultivar a terra.” (Gênesis 2:5) Rashi explica que o homem ainda não estava lá para rezar [por chuvas] – as suas orações eram necessárias para iniciar a corrente de bênção Divina.
Assim, antes da oração de uma pessoa, tudo o que lhe acontece, mesmo o sofrimento, é para seu bem. O sofrimento pelo qual ela passa é, na verdade, uma expressão do amor de Deus, já que, dado o comportamento mundano do homem, não há outra maneira da bênção e da vida descerem até ele em seu estágio de desenvolvimento. Se fôssemos abençoados com bondade pura e sem limites, a luz seria excessiva e faria mais mal do que bem.
Por meio da reza, nós adoçamos os julgamentos Divinos que restringem o fluxo de bondade e preparamos os recipientes por meio dos quais poderemos receber a bondade de Deus. Então somos capazes de anular os julgamentos severos, já que passamos a ter os recipientes para receber a bondade infinita de Deus sem termos que passar por sofrimentos.
Para prepararmos os recipientes, o primeiro estágio é elevar nossos olhos para o objetivo final, onde tudo é bom, e fazer de todas as nossas rezas uma unidade. É somente depois de nos cercarmos de bitul diante do propósito final, de sabermos e acreditarmos que tudo é para o bem, que podemos rezar para tudo aquilo que precisamos. A razão disso é que os recipientes com os quais recebemos as inúmeras bênçãos de Deus – filhos, saúde, riqueza, etc –, na verdade, são formados a partir da luz do resquício da experiência de bitul que permanece depois do retorno ao estado normal de consciência. Se tivermos preparados os recipientes com os quais receberemos a bondade e bênção de Deus, dali em diante tudo é para o bem.
É isso que o Rebe Nachman quer dizer quando afirma que, depois de retornarmos do estado de bitul, saciamos a sede da alma causada pelo sofrimento por meio da Torá que recebemos desse resquício. E, na verdade, essa Torá vem até nós por meio da oração. Esse é o ponto mencionado diversas vezes pelo Rebe – cf. Licutê Moharan I:8 e I:19 – e que também é evidente aqui. O Rebe fala primeiramente sobre como transformar as orações em uma unidade por meio da contemplação da meta final, e depois conclui que é por meio dessa contemplação que adquirimos a Torá do resquício de bitul.
O fato é que a reza e o entendimento da Torá são dependentes um do outro. Nós nos conectamos ao resquício do bitul por meio da oração. E, assim, nós trazemos das alturas a fonte de luz que depois se expande dentro de nós na forma de um entendimento profundo da Torá e com o qual amenizamos nosso sofrimento. Pois é por meio da oração e da Torá que criamos os recipientes com os quais recebemos o influxo de bênçãos de Deus – para o bem, a eternidade e a vida, e não para o mal e para a morte.
Nós somente podemos aprender como rezar por meio dos verdadeiros tsadikim. Do mesmo modo, nossos sábios disseram que qualquer pessoa que tenha alguém doente em casa deve ir a um tsadic. (Talmud, Tratado Baba Batra 116a) O motivo dessa orientação é que só um verdadeiro tsadic – o “mestre do campo” mencionado no ensinamento – sabe como olhar dentro da alma de cada um e ver quão distante o indivíduo se encontra da meta final, até que ponto a sua oração ainda não se consolidou em unidade e o que é necessário fazer para trazê-lo até o objetivo final.
Texto extraído do livro:
Jardim das Almas
Ensinamentos do Rebe Nachman de Breslav sobre o Sofrimento
por Avraham Greenbaum
Clique e confira mais informações:
http://www.sefer.com.br/details/11151/jardim-das-almas
É somente fechando nossos olhos completamente para esse mundo e olhando para o propósito eterno e final que podemos anular todo o sofrimento e chegar a uma oração perfeita.
Os rabinos nos ensinaram a dizer que “Tudo o que o Misericordioso faz é para o bem”. Mas, se tudo o que Deus faz com um indivíduo é para o bem dele, e se a dor e o sofrimento são grandes favores que o ajudam a alcançar a vida eterna, então por que somos ordenados a rezar quando estamos com problemas?
Certamente tudo o que Deus faz com uma pessoa é para o bem, mas mesmo assim deve-se rezar e implorar a Ele por alívio do sofrimento. Para entender o por quê, primeiro devemos reconhecer que o principal objetivo da criação do mundo é o homem, a quem foi dado o livre-arbítrio. Deus colocou tudo em nossas mãos, para que nós mesmos fizéssemos os recipientes por meio dos quais o amor Divino e suas bênçãos pudessem afluir para este mundo.
Um recipiente é utilizado para guardar algo e passar adiante para outra pessoa. Na literatura cabalista, os ensinamentos de Torá, as orações, as mitsvót e as boas ações são denominadas recipientes – canais limitados pelos quais a Luz Infinita de Deus pode ser revelada neste mundo. Enquanto nós não prepararmos esses recipientes aqui embaixo, a bondade Divina não pode afluir de cima até nós, pois, nesse caso, ela viria em excesso – assim como o óleo que, em demasia, apaga uma lâmpada. A bondade se tornaria então severidade, Deus nos livre.
Os recipientes para receber a bondade de Deus são preparados por meio do estudo da Torá e da reza, especialmente a reza. Assim, antes da criação do homem, “toda planta do campo antes que houvesse na terra e toda erva do campo antes que germinasse, porque não tinha feito chover o Eterno Deus sobre a terra e o homem não existia para cultivar a terra.” (Gênesis 2:5) Rashi explica que o homem ainda não estava lá para rezar [por chuvas] – as suas orações eram necessárias para iniciar a corrente de bênção Divina.
Assim, antes da oração de uma pessoa, tudo o que lhe acontece, mesmo o sofrimento, é para seu bem. O sofrimento pelo qual ela passa é, na verdade, uma expressão do amor de Deus, já que, dado o comportamento mundano do homem, não há outra maneira da bênção e da vida descerem até ele em seu estágio de desenvolvimento. Se fôssemos abençoados com bondade pura e sem limites, a luz seria excessiva e faria mais mal do que bem.
Por meio da reza, nós adoçamos os julgamentos Divinos que restringem o fluxo de bondade e preparamos os recipientes por meio dos quais poderemos receber a bondade de Deus. Então somos capazes de anular os julgamentos severos, já que passamos a ter os recipientes para receber a bondade infinita de Deus sem termos que passar por sofrimentos.
Para prepararmos os recipientes, o primeiro estágio é elevar nossos olhos para o objetivo final, onde tudo é bom, e fazer de todas as nossas rezas uma unidade. É somente depois de nos cercarmos de bitul diante do propósito final, de sabermos e acreditarmos que tudo é para o bem, que podemos rezar para tudo aquilo que precisamos. A razão disso é que os recipientes com os quais recebemos as inúmeras bênçãos de Deus – filhos, saúde, riqueza, etc –, na verdade, são formados a partir da luz do resquício da experiência de bitul que permanece depois do retorno ao estado normal de consciência. Se tivermos preparados os recipientes com os quais receberemos a bondade e bênção de Deus, dali em diante tudo é para o bem.
É isso que o Rebe Nachman quer dizer quando afirma que, depois de retornarmos do estado de bitul, saciamos a sede da alma causada pelo sofrimento por meio da Torá que recebemos desse resquício. E, na verdade, essa Torá vem até nós por meio da oração. Esse é o ponto mencionado diversas vezes pelo Rebe – cf. Licutê Moharan I:8 e I:19 – e que também é evidente aqui. O Rebe fala primeiramente sobre como transformar as orações em uma unidade por meio da contemplação da meta final, e depois conclui que é por meio dessa contemplação que adquirimos a Torá do resquício de bitul.
O fato é que a reza e o entendimento da Torá são dependentes um do outro. Nós nos conectamos ao resquício do bitul por meio da oração. E, assim, nós trazemos das alturas a fonte de luz que depois se expande dentro de nós na forma de um entendimento profundo da Torá e com o qual amenizamos nosso sofrimento. Pois é por meio da oração e da Torá que criamos os recipientes com os quais recebemos o influxo de bênçãos de Deus – para o bem, a eternidade e a vida, e não para o mal e para a morte.
Nós somente podemos aprender como rezar por meio dos verdadeiros tsadikim. Do mesmo modo, nossos sábios disseram que qualquer pessoa que tenha alguém doente em casa deve ir a um tsadic. (Talmud, Tratado Baba Batra 116a) O motivo dessa orientação é que só um verdadeiro tsadic – o “mestre do campo” mencionado no ensinamento – sabe como olhar dentro da alma de cada um e ver quão distante o indivíduo se encontra da meta final, até que ponto a sua oração ainda não se consolidou em unidade e o que é necessário fazer para trazê-lo até o objetivo final.
Texto extraído do livro:
Jardim das Almas
Ensinamentos do Rebe Nachman de Breslav sobre o Sofrimento
por Avraham Greenbaum
Clique e confira mais informações:
http://www.sefer.com.br/details/11151/jardim-das-almas
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