(extraído de DO OTIMISMO À ESPERANÇA, do
Rabino Lord Jonathan Sacks)
Esta noite, minha esposa e eu nos
sentaremos à mesa com nossos filhos para contar uma das histórias mais antigas
do mundo: a história de Pêssach, a festa judaica da liberdade. O tema
não se encaixa perfeitamente no nosso programa. Não trata da doença da vaca
louca, das batalhas entre os políticos. Não se caracteriza, em definitivo, como
assunto típico entre aqueles que costumamos abordar.
É sobre como um grupo de escravos,
os antigos israelitas, deixou o Egito para trilhar o longo caminho em direção à
Terra Prometida. Para torná-la ainda mais impressionante, mais do que uma
simples história, acrescentamos um toque de realidade virtual. Comemos matsá,
o pão não fermentado, como se estivéssemos no deserto. Comemos maror, as
ervas que nos fazem sentir o gosto amargo da escravidão. E bebemos quatro copos
de vinho, cada um representando uma das etapas do caminho que nos leva à
liberdade. Celebramos Pêssach mais ou menos da mesma maneira que os
israelitas devem ter feito há mais de três mil anos, e como os judeus têm feito
desde então.
Creio que as perguntas aqui sejam:
“Por quê?” e “Será que precisamos mesmo recordar um passado tão antigo,
preparando um evento tão trabalhoso, para ensiná-lo aos nossos filhos?”
Do ponto de vista pessoal, tenho uma
dívida imensa para com meus pais por terem me ensinado a história, as músicas,
os rituais e as perguntas: Ma nishtaná halaila hazê – por que esta noite
é diferente das outras noites?
Levou muito tempo até eu entender
o que estava acontecendo de fato naquelas noites de Pêssach. Estava
sendo ajudado a aprender quem eu era e a história do povo ao qual pertenço.
Estava descobrindo os valores nos quais meus ancestrais se apoiaram nos tempos
difíceis: confiança, amor profundo pela liberdade e pela justiça, um desejo
verdadeiro de perguntar e aprender. Eu estava entrando na grande conversa entre
as gerações, que é o que a educação deve ser. E, melhor de tudo, era prazeroso
e cheio de alegria.
Há muitas razões positivas para
desligar a televisão de vez em quando e conversar com as crianças sobre a
jornada que nós e aqueles que vieram antes de nós empreendemos, e o que
aprendemos ao longo do caminho. 
Às vezes temos pouca confiança em
nós mesmos como pais. Subestimamos o quanto nossos filhos querem ouvir as
histórias que dão sentido e propósito às nossas vidas, e que um dia darão força
a eles. Os judeus nunca perderam o costume de contar a história às crianças.
Talvez por esta razão tenhamos sobrevivido.
Valores não são invenções. Eles
vêm do trabalho de muitas gerações, e por isso devemos transmiti-los às nossas
crianças. Às vezes, contar a história de todos os nossos dias de ontem é a
melhor ideia para hoje.
Editora e Livraria Sêfer
A livraria Judaica do Brasil 
 

 
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